A lembrança que tenho de meu pai é que era um trabalhador incansável. Acho que não agradeci suficientemente a ele todo o esforço despendido para, através do pesado trabalho de pequeno agricultor, custear os meus estudos no Seminário Concórdia. Mas quando, num momento de descanso, lhe perguntavam o que estava fazendo costumava dizer: “Estou procurando quem inventou o trabalho”. Era sua maneira espirituosa de se referir à sentença que Deus disse a Adão logo depois da queda: “Por causa do que você fez, a terra será maldita. Você terá de trabalhar duramente a vida inteira a fim de que a terra produza alimento suficiente para você” (Gn 3.17).

Naquela ocasião Deus também disse que o descendente de mulher iria, com muito trabalho, refazer a toda a criação. Jesus fez isso suando gotas de sangue e ao vencer morte nos animou: “no mundo vocês vão sofrer, mas tenham coragem”. Por isso Paulo escreveu: “Quem está unido com Cristo é uma nova pessoa; acabou-se o que era velho, e já chegou o que é novo” (1 Co 5.17).

Lutero, com base nesse novo de Cristo, faz uma interpretação positiva ao falar da vocação das pessoas para os diversos tipos de trabalho.  Ele entendia que “vocação” é servir os outros e nisso a espiritualidade é trazida para a nossa vida prática de cada dia. Ele costumava dizer que Deus está oculto na nossa vida diária. A rotina comum de ganhar a vida, ir ao supermercado, ser um bom cidadão, gastar tempo com a família, são esferas nas quais Deus opera, através de meios humanos. Na explicação do primeiro mandamento no Catecismo Maior ele escreve: “Pois, ainda que, de resto, muita coisa boa nos venha de homens, todavia, é receber de Deus tudo quanto se recebe por seu mandamento e ordem. As criaturas são apenas a mão, o canal e o meio através de que Deus tudo concede”.

Se pedimos, no Pai Nosso, pelo pão de cada dia, então oramos pelo nosso emprego, pelo desempenho da economia do nosso País, pelo agricultor que planta o trigo, pelo caminhoneiro que o transporta, pelo moinho que faz a farinha, pelo padeiro que faz o pão, pelo comerciante que o vende. Cada parte desta cadeia alimentar econômica é uma vocação, através da qual Deus opera e distribui os seus dons.

Entender o trabalho como uma vocação ou um chamado de Deus para que esse círculo de dádivas que permite o funcionamento do mundo torna a vida mais prazerosa. Esta é a canção do Salmo 128: “Do trabalho de tuas mãos comerás, feliz serás e tudo te irá bem”.

Edgar Lemke

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