Os mineiros soterrados numa mina no Chile serão resgatados no Natal. Eles não podem fazer nada, a não ser confiar no plano de ajuda das pessoas de fora, e aguardar. Neste tempo de espera, há um meio de contato entre o céu e o fundo da terra – um cano por onde enviam água, alimento, oxigênio, remédios, e mensagens de esperança. É a salvação que vem de cima. Enquanto isto, os mineiros têm um enorme desafio nesse advento. Precisam alimentar a esperança, conservar o ritmo de sono e manter o grupo unido. A boa notícia é que, juntos, as chances são maiores. Se um fraquejar, os outros ajudam. A pessoa sozinha acaba ficando desesperada.
Qualquer semelhança com outra história é pura coincidência. Ou não? Em vários detalhes, o resgate desses homens lembra o maior de todos. A própria euforia da descoberta que estão vivos, estampada no rosto dos parentes, na comemoração do país inteiro, lembra a alegria nos céus. Nesta hora vem à memória as parábolas dos “perdidos” em Lucas 15 – da ovelha, da moeda e do filho – onde o evangelista destaca as palavras de Jesus sobre a reação da mulher ao encontrar a moeda: “Pois eu digo a vocês que assim também os anjos de Deus se alegrarão”.
Mas fico imaginando a situação desses mineiros, enterrados vivos a 700 metros, num minúsculo ambiente úmido, quente e sem luz. Eles ainda não foram notificados sobre os quatro meses que terão de aguardar. Por isto, além das condições físicas, o equilíbrio psicológico é fundamental. Um controle que dependerá da esperança em sair do buraco. Eles precisam olhar para cima. E conversar, cantar, animar-se mutuamente. Li numa reportagem a respeito, que em situações extremas desse tipo, os desentendimentos e confusão são comuns. É necessário manter o grupo unido e coeso num só objetivo: esperar o resgate de cima.
Um dos mineiros soterrados é Franklin Lobos, que foi jogador pela seleção chilena de futebol. A filha dele preparou uma longa carta, afirmando que o pai terá todo o tempo do mundo para lê-la. É outro detalhe parecido quando o salmista escreve: “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para os meus caminhos” (119.105). Em todo o caso, quando os mineiros forem resgatados, então será Natal e eles terão dois grandes motivos para festejar.
Marcos Schmidt
pastor luterano em Novo Hamburgo
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