“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie. Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.”
Efésios 2.8-10
O Dia da Reforma (31 de outubro), que comemoramos este ano num domingo, é sempre um convite para reflexão sobre a doutrina da salvação pela graça mediante a fé em Cristo.
Paulo diz, de modo enfático: a salvação não decorre do poder nem do mérito humano. Não vem de vós! Não vem de obras!
E, no entanto, o apóstolo está se dirigindo a cristãos para encorajá-los à prática de boas obras. Todas as cartas de Paulo, sem exceção, chamam os cristãos a viverem segundo os mandamentos de Deus.
Ao afirmar que a salvação “não vem de vós,” Paulo também diz: “vem de Deus!” E ao dizer que “não vem de obras,” isto é, do mérito humano, ele afirma que vem da graça de Deus.
O que o apóstolo faz é colocar os atores no seu próprio lugar no palco onde se dá a nossa salvação. Paulo nos convida a ver a nós mesmos, os que fomos salvos pela graça, mediante a fé em Cristo. Não ocupamos o lugar do Criador, mas o de criaturas.
No livro de Jó, o homem justo leva a sua causa perante o Criador e questiona a justiça divina, o modo como Deus lida com os seres humanos, os justos e os pecadores. Ele, neste embate com o Todo-Poderoso, Jó entende que a resposta divina é simplesmente esta: a tua justiça não vem de ti, nem de tuas obras.
A salvação não vem de nós e de nossos méritos não só porque somos pecadores que estão em dívida com Deus, mas também porque o nosso lugar no teatro da salvação é de criaturas, feitas do pó da terra, as quais, sem o sopro divino, nada são.
Não temos poder para salvar a nós mesmos, porque a salvação está muito além do que nós, como criaturas, podemos fazer: “Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos fez viver juntamente com Cristo” (Efésios 2.5).
A salvação é uma nova criação, para a qual não temos como colaborar, porque o poder da salvação é o poder da ressurreição.
É por isso também que podemos viver uma nova vida, apesar de nossa fraqueza e pecado, porque a fé em Cristo não vem de nós, mas é do Espírito Santo em nossos corações. E, na fé, que é criada em nós, somos nós mesmos espiritualmente recriados por Deus. Em Cristo, somos “nova criatura” (Gálatas 6.15)
A linguagem da criação é empregada por Paulo para falar da nova vida em Cristo, que nem é uma vida entregue ao pecado nem uma vida de escravidão a preceitos sem proveito para a santificação. Somos nova criatura, porque Deus nos chamou da morte para a vida, do pecado para a justiça, da escravidão da lei para a liberdade da graça, de obras infrutíferas das trevas para o fruto da luz, as boas obras criadas por Deus para que andássemos nelas.
Onde estão estas boas obras e onde as podemos encontrar? Elas não estão fora de nós, mas dentro de nós, pois foram criadas juntamente com a fé em Cristo, as quais também são chamadas de frutos do Espírito Santo em nossa vida.
Na carta aos Efésios, Paulo define as boas obras como frutos do Espírito: bondade, justiça e verdade (Efésios 5.9). As boas obras são o que nós somos, não apenas o que fazemos. As boas obras estão ali onde a fé em Cristo está, como frutos que nascem da graça de Deus e que servem ao bem do próximo e à glória de Deus.
Luisivan Vellar Strelow