“E o que restou?/ Ah, sim!/ No peito em vez de medalhas/ Cicatrizes de batalhas/ Foi o que sobrou pra mim” . Essas são as palavras do estribilho da canção “Sabe moço” interpretada pelo falecido Leopoldo Rassier. Remontando o fim da Guerra dos Farrapos, creio servirem como alerta para o atual momento que estamos vivendo, uma guerra supostamente quanto a princípios, ideais e comprometimento com o bem coletivo. Mas que na verdade estão se perdendo no mundo das fakenews, da falta de propostas, de comprometimento com o bem do país. E nós, cristãos e todo o povo no meio, se digladiando. E até a distinção entre Igreja e Estado está sendo ignorada e Jesus Cristo, de Salvador, é transformado em cabo eleitoral. Lamentável!
Ai entra essa canção para nos lembrar que depois do dia primeiro de Janeiro 2019 haverá muitas assinaturas em papéis, honrarias para destaques de campanha, nomeações de autoridades… Mas para nós que brigamos, caluniamos, divulgamos mentiras, ofendemos e fomos ofendidos em nome dos eleitos, ficarão somente as “cicatrizes de batalha”.
Com isso não menosprezo a luta por vida digna que se faz através da participação política e em especial com as eleições, das quais temos o dever e privilégio de participar. Ao menos ainda. Pois de ambos os extremos, diz-se serem defensores de ditaduras. Não! Este é um momento sério da necessária participação dos cristãos como eleitores e candidatos. Mas é aí que entra a diferença quanto a ação e luta: ela terá de ser “no Senhor”. Do contrário, seremos nós os cicatrizados. Ou pior, os que provocaram cicatrizes, muitas vezes, no irmão na fé, nos familiares e amigos. E para quê? Para ficarem apenas com as cicatrizes desta batalha, por vezes sanguinárias na destruição verbal e falsa do suposto inimigo. Em política deveríamos ter adversários. Nunca inimigos. Afinal, todos querem o bem do país. Ou não?
Para concluir, lembro que o reino de Cristo e dos cristãos não é deste mundo João 18.36. A César o que é de César e a Deus o que é de Deus Mt 22.21. Não misturemos as coisas. Nem desembainhemos a espada para voltá-la contra o irmão. Passado o pleito, virão os reencontros. E como olhar no olho do irmão, do familiar, do amigo, pela palavra maldita mal dita no calor das discussões, colocadas sem pensar, que o ofendeu, entristeceu, frustrou, e o marcou com o desamor que não é próprio dos cristãos?
Estas cicatrizes podem ser evitadas. Sem deixar de defender as ideias, votar com responsabilidade, cuidemos para não sermos guerreiros cujos despojos de guerra serão apenas cicatrizes. Abençoada reflexão e voto. E que tenhamos um corajoso pós-eleição. Com um coração transformado pelo Evangelho de Cristo para pedir e dar perdão. Será necessário. A fim de reconstruirmos nossos relacionamentos quebrados nessa luta que está além do nível das ideias, caminhando para o lado cada vez mais pessoal.
Abençoada semana e voto.
Pr José Daniel Steimetz